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odos os dias, às 17h, a Sony exibe o que eu gosto de chamar de Propaganda do American Way of Life. São dois programas cujas histórias sempre giram em torno de maridos imbecis incapazes de realizar qualquer tarefa doméstica não-relacionada com carros e ferramentas, e mulheres incrivelmente inteligente e cultas mas que “escolhem” ficar em casa e cuidar de seus maridos e filhos enquanto os homens "trazem o bacon" (tradução da expressão "bring home the bacon", que eu tenho quase certeza não existe de verdade em português). Trata-se de Everybody Loves Raymond e My Wife and Kids.Os dois programas são encabeçados por dois ótimos comediantes, Ray Romano e Damon Wayans, e contam com elencos de suporte primorosos. É impossível negar o brilhantismo das atuações de todo o elenco de Everybody Loves Raymond, ofuscando o próprio Romano na maioria das vezes. Aliás, as situações nas quais o personagem Ray se envolve, e cada um de seus diálogos, são tão encharcados de clichês que fica quase impossível dar qualquer tipo de profundidade à interpretação, por melhor que seja o ator. Quando Ray deixa de ser a figura estereotipada do homem inepto e emocionalmente vazio, no entanto, o mérito é todo de Romano.
Já My Wife and Kids conta com a irreverência de Wayans para tentar camuflar as construções machistas. O meu problema é que aí o personagem se transforma numa caricatura. Isso não retira a graça do show, até porque Wayans é um ator caricatural ao extremo, e todo o restante do elenco acaba surfando neste mesma onda. Mas Wayans, Romano, e um elenco inspirado garantem a graça dos dois shows. A verdade é que o talento destes atores retira a superficialidade eminente do conceito, mas não consegue impedir que uma certa idéia de vida seja exposta.
Os dois personagens masculinos principais podem ser encarados como um protótipo do homem americano comum: fãs fervorosos de esportes, completamente alienados a qualquer atividade cultural, politicamente desengajados, pouco informados, incapazes de ler um parágrafo sequer de algum livro, ou de realizar qualquer coisa em uma cozinha. Aliás, nunca vi um episódio no qual algum dos dois seja visto lavando louça, limpando o chão, dobrando roupa. Só quando se trata da educação dos filhos esses personagens parecem se tornar um pouco menos estereotipados, mesmo que suas intervenções educacionais sejam sempre fruto de uma mediação insistente de suas esposas.
E as esposas são sempre bonitas, inteligentes, educadas, e eficientes. Sempre tem um diploma pendurado em algum lugar, mas sem utilidade, uma vez que são donas de casa e não podem sequer ter ambições de uma carreira. Em My Wife and Kids, quando Jay decidiu buscar construir um caminho profissional, ela acabou sendo coagida a desistir da idéia “absurda” quando viu sua famíilia começar a cair em pedaços devido a sua ausência. A mensagem clara que fica é: mulheres, se vocês querem que suas famílias sejam felizes, não se afastem delas nem mesmo por duas horas diárias ou tudo vai desmoronar. Jay voltou a ser dona de casa e as coisas correram muito bem.
Minha mãe sempre trabalhou fora, e durante alguns anos eu a via menos de duas horas por dia. Mas eu nunca virei maconheiro por causa disso. Nem nossa família desmoronou. Eu soube entender que, às vezes, mães precisam fazer sacrifícios para sustentar suas famílias. Em My Wife and Kids e Everybody Loves Raymond impera uma famíilia ultrapassada, uma imagem que eles cismam em tentar passar. Como os dois shows já foram cancelados, talvez seja hora de perceber que essa mensagem antiquada já cansou!
E, para compensar a chatice enorme do texto de hoje, uma montagem com as cenas do Merv Griffin Show, um episódio hilário de Seinfeld em que Kramer se transformou num talk-show host de fazer qualquer um rolar de rir.
comentários: 5 Postar um comentário
21 de novembro de 2008 às 08:05
Eu nunca vi Everybody Loves Raymond, não sei porque nunca tive vontade.
Agora My Wife and Kids é isso mesmo que você falou. É realmente muito engraçada, mas faz propaganda de um estilo de vida completamente ultrapassado.
Adorei o vídeo. Nunca tinha visto esse episódio, ri horrores aqui.
21 de novembro de 2008 às 08:36
21 de novembro de 2008 às 08:59
Hahahahaa, tá que o vídeo foi COMPLETAMENTE aleatório em relação ao post, mas tá valendo simplesmente porque Seinfeld sempre bomba!
Tomei umas liberdades de consertar uma crase e adicionar fotos, não me odeie!
Ah, em tempo: concordo plenamente. É uma idéia totalmente ultrapassada de família, e realmente não faz sentido essas mulheres estarem com esses babacas. É tipo real-life SImpsons!
Também vale mencionar outros programas nessa mesma linha, como According to Jim e King of Queens. ARGH!
;*
22 de novembro de 2008 às 04:54
22 de novembro de 2008 às 04:57
Olha quem fala... o garoto que me disse mulher tem que agradar o marido mesmo, fazendo boque** diariamente , se necessário.
PS:Megazord aceita palavras baixo nível? É um trabalho acadêmico, não sei se seria adequado.
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