Poderoso Megazord Entrevista.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008
 
 
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Mineiro de Belo Horizonte, Paulo Gustavo Pereira cresceu assistindo a dezenas de séries consideradas clássicas dentro da pequena história da televisão no Brasil. Formado em jornalismo, escreveu para o Jornal da Tarde, Folha, Estadão e Jornal do Brasil. Hoje é diretor de redação da revista Sci-Fi News, publicação nerd de qualidade com 12 anos de existência.
Na televisão, passou pela Tupi, Globo, Bandeirantes, Record, Manchete e Cultura como assistente de redação, repórter, editor e chefe de reportagem. No SBT, dirigiu as transmissões da Festa do Oscar, a partir de 1994. Repetiu a dose na TNT, direto dos estúdios da emissora em Atlanta/EUA, em 2007. Lançou no primeiro semestre de 2008 o livro Almanaque dos Seriados. Uma verdadeira enciclopédia de séries americanas e nacionais divida por décadas, desde os anos 50 até os 2000. Mesmo com esse currículo impressionante Paulo Gustavo arranjou tempo pra conversar com os autores desse pequeno blog despretensioso e nos concedeu uma divertida entrevista falando sobre nosso assunto favorito: televisão.

Poderoso Megazord: Porque você se decidiu por trabalhar com jornalismo cultural? Foi um interesse constante no tempo de faculdade?
Paulo Gustavo Pereira: Não foi uma decisão formal, dessas que você expressa quando está estudando. Ela veio da forma mais natural possível. Sempre gostei de cinema e televisão. Quando a Bloch Editora lançou a revista Fatos, para concorrer com a Isto É e Veja, um amigo me pediu para escrever um artigo sobre um negócio novo chamado Home Video. Aí, conheci o pessoal da CIC Video e gostei dessa área de mercado de entretenimento. Quando saí do jornalismo diário nos anos 80, foquei para esse segmento e o resto veio naturalmente.

PM: E o interesse maior por televisão? Quando decidiu que era sobre entretenimento que você queria escrever?
PGP: Cinema, televisão e vídeo sempre correram em paralelo para mim. Trabalhei no Jornal do Video, um veículo de mercado, pude unir todos esses segmentos num trabalho só. Escrevia sobre os lançamentos do cinema e que depois estariam em vídeo, o mesmo acontecendo com televisão, se bem que a produção de TV para home vídeo era muito insípida nos anos 80.

PM: Você assiste mais a TV aberta ou a fechada? Quais são suas opções favoritas na programação?
PGP: Nada me tira o prazer de assistir TV, se for obrigado a ver algo na TV Aberta. Ela deixou de ter a personalidade que tinha até o final dos anos 70. Com a total hegemonia da Globo, ficou difícil assistir algo interessante e inovador. Acho que a última coisa interessante que vi foi Armação Ilimitada, do Guel Arraes. Inovadora e com uma pós-produção como se fosse uma história em quadrinho e diálogos maravilhosos. Depois disso, tudo se tornou medíocre e previsível. Nesta mesma época, deixei de assistir novelas por que elas não renovavam em nada o esquema do folhetim. Mergulhei no VHS, que trazia sempre novidades, independente de ter sido exibido no cinema ou não. Hoje, minha “grade” de programação vai de comédias como Justiça Sem Limites, The Big Bang Theory, Monk, Psych; policiais como Lei & Ordem (Unidade de Vítimas Especiais e Crimes Premeditados), The Shield e The Mentalist; suspense como Dexter, Medium, Supernatural; aventura como Smallville; ficção como Galactica, Eureka, Stargate Atlantis; e outras preciosidades como Eli Stone, Breaking Bad, Desperate Housewives, Lost, Heroes, House. E ainda tenho tempo para ver filmes no cinema, curtir a minha filha e ler... Além de jogar basquete três vezes por semana... Ufa...

PM: Como você avalia as novas safras de séries produzidas no exterior nos últimos anos, nos anos 2000?
PGP: É interessante notar que essa evolução das séries, não importando o país por que todo mundo está fazendo trabalhos fantásticos, inclusive o Brasil como as produções da HBO e da Fox (9 mm). Aquele famoso teórico da comunicação Marshall McLuhan disse que a Terra iria se tornar uma Aldeia Global, e estava certo. Hoje com a internet e a comunicação por satélite alcançando praticamente todas as regiões do planeta, o público passou a ter acesso a praticamente tudo. Você pode ver uma série americana ou inglesa minutos depois que ela foi para o ar. Isso fez com que os produtores começassem a trabalhar melhor o conteúdo, com histórias mais ricas em informação. Não significa, é claro, que tudo é uma maravilha. Muitas boas séries acabam morrendo na praia, principalmente nos Estados Unidos, por que o público médio não entendeu a idéia da série, obrigando o canal a cortá-la.

PM: Como surgiu o projeto de escrever o livro Almanaque dos Seriados? Como foi o processo de pesquisa?
PGP: Li um artigo do Dagomir Marquezi, que hoje é colunista da Revista Info. Ele falava sobre um pesquisador americano que escreveu uma enciclopédia de séries e programas de TV americanos. E para ilustrar seu artigo, ele falava também de séries nacionais ou estrangeiras que passaram no Brasil como Nacional Kid e Vigilante Rodoviário. Foi quando me bateu na cabeça a idéia de escrever a versão brasileira dessa enciclopédia. Comecei pesquisando no arquivo do jornal O Estado de São Paulo. Era um trabalho complicado por que não tinha outros livros de pesquisa para me ajudar. Consegui uma cópia do livro americano (TV Series – Vincent Terrace) e fui comparando informações, usando também minha memória para preencher os espaços em branco. Mas seis meses depois não tinha avançado muito e, por diversos motivos acabei parando o trabalho. Retornei nos anos 90, quando tivemos a grata invasão da TV por Assinatura, que inundou a TV com novas séries de todos os tipos. A partir daí, retomei a pesquisa e consegui publicar o livro.

PM: Como é dirigir a redação da Sci-Fi News, que é uma publicação já consolidada entre o público?
PGP: Há mais de dez anos sempre me pergunto isso. A resposta é simples: ela me inspira, me dá caminhos, me dá desafios todos os meses. É um grande prazer saber que no Brasil, existe um segmento de leitores ávidos pelas nossas informações, independente do que acontece hoje na Internet. E espero continuar a contribuir para a consolidação e formação desse segmento enquanto ainda não for abduzido por alienígenas da Galáxia de Andrômeda.

PM: Qual sua opinião sobre as pessoas que falam da televisão até hoje como algo alienante e se referem aos seriados americanos como “enlatados”?
PGP: Isso é besteira. Alienantes são os programas que existem na TV Aberta, onde levam pessoas para mostrar um problema pessoal, que acaba em choro e pancadaria. Isso é a TV de hoje no Brasil. Programas desse nível, junto com aqueles que falam sobre fofocas das celebridades usando fotografias de revistas para ilustrar as pseudo informações que divulgam, são um mal assustador na TV aberta. Estamos vivendo um momento de total mediocridade nessa área. Nada se cria de diferente, programas como Zorra Total tentam ser diferentes, mas copiam bem mal copiado, programas antigos como TV Pirada. Até mesmo o Sai de Baixo, que inicialmente tinha uma proposta bem divertida, de trazer os grandes programas de humor feitos no começo da TV como Balança mais Não Cai e Família Trappo, feitos em teatro e com público ao vivo, virou palco para estrelismos nada contidos de seu elenco, que ficavam mais fora do roteiro do que qualquer outra coisa. Abaixo a mediocridade viva a TV por assinatura.

PM: Como você vê o humor que era feito por protagonistas mulheres antigamente (como I Love Lucy e The Mary Tyler Moore Show) e o humor das séries de hoje como 30 Rock e The Sarah Silverman Program?
PGP: Os programas com protagonistas femininas avançaram muito desde Mary Tyler Moore. Antes, as mulheres eram quem davam o tom da comédia, mostrando que eram inteligentes, mas atrapalhadas ao lidar com os problemas domésticos. Quando essa mesma mulher também mostrou que podia se virar sozinha, as coisas começaram a mudar. Foi assim com Murphy Brown, estrelada por Candice Bergen, que no auge da série, decidiu que queria ter um filho sem ser casada. Foi um choque, mas prevaleceu a vontade da personagem. Assim como aconteceu em Ellen, quando Ellen Degeneres resolveu assumir dentro e fora da série, sua homossexualidade. O importante é que não existe mais esse diferencial dentro e fora de um programa de TV. Sex and the City é outro exemplo. Sendo bom e tendo conteúdo e bom elenco, ele pode ser escrito até mesmo por alienígenas na Galáxia de Andrômeda, que o público vai gostar e prestigiar.

PM: Como você avalia os programas feitos para mulheres hoje, excluindo os clássicos de culinária? O que acha de talk shows do tipo Irritando Fernanda Young e The Ellen DeGeneres Show? Ambos que exploram o humor de suas apresentadoras.
PGP: As chamadas revistas femininas na TV, ainda tem seu componente dirigido para o público feminino, mas também discutem assuntos de interesse geral. Isso é importante por que não existe espaço hoje, para programas feitos para dondocas. Qualquer programa dirigido ao publico feminino que não tiver engajado em algo mais geral, político e social, tem seus dias contados por que ninguém vai ficar na frente da TV só para ver os belos olhos de alguma apresentadora que não sabe desejar um zero sentada.

PM: Qual sua opinião sobre as produções de séries nacionais como A Grande Família e Toma Lá Dá Cá?
PGP: A Grande Família é uma atualização da série dos anos 70, escrita pelo Mario Prata, que por sua vez é uma adaptação da série americana Tudo em Família (All in the Family), estrelada por Caroll O’Connor. Ou seja, funciona mais por causa do talento do elenco do que pelo conteúdo, que não tem nada de inovador. Já a outra é muito ruim para que eu comente alguma coisa.

PM: Você acha que o humor realizado aqui no Brasil é muito politicamente correto? Principalmente quando comparado a humorísticos americanos como o Saturday Night Live e o The Daily Show with Jon Stewart em que sátiras e acusações são feitas abertamente as figuras públicas.
PGP: Veja que coisa curiosa: nos anos 80, quando trabalhava na Record, recebi um VHS com um piloto de programa chamado Video Cassete, onde o pessoal do Cassete e Planeta mostrava o que poderia ser o embrião de um programa de humor inovador. Só que era inovador demais para a época. O que acabou acontecendo é que todos os membros dessa trupe foram parar na TV Pirata, fazendo textos e quadros para o programa. Depois fizeram a cobertura do carnaval carioca em 1990 mostrando o que poderia fazer se tivessem um programa só deles. Em 1992, eles entraram no ar e estão até hoje. É um humor irreverente e criativo? Com certeza. Tem sátira política? Todos os programas, independente do governo que está no poder. E todo mundo gosta? Nem todo mundo entende as sutilezas explícitas do programa. Caso contrário, o resultado das eleições seria completamente diferente.

PM: Existe algum programa humorístico brasileiro que você ache de qualidade, atual ou antigo?
PGP: Tinha o horário político eleitoral. Mas mudaram tanto o formato nos últimos dez anos, que parece mais um programa policial do tipo Procura-se...
 
 
comentários: 2 Postar um comentário

Foi muito legal da parte dele aceitar fazer a entrevista coma gente.

e ficou tãããããão legal!!! Li sem nenhum problema...

Ficou ÓTIMO! Palmas para a idéia brilhante da Carla /o/

 
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